domingo, 7 de julho de 2013

A arte de bicicletar

Em detrimento do exercício e prática do esporte, o que importa a Georges Pérec e a Fernando Arrabal, escritores de vanguarda, é o que tema sugere. A bicicleta é pretexto para fantasias e teses metafísicas, objeto ao qual subtraem definições e conceitos sobre o ser. Membro genial do grupo Oulipo, e cuja memória se cultura hoje com especial veneração, Georges Perec publicou, em 1996, um livro curioso Quel petit vélo à guidon au fond de la cour? - Qual a bicicletazinha de guidom no fundo do pátio? Do espanhol marroquino, Arrabal, exilado na França, encenou-se em Paris, em 1967, a peça de um ato La bicyclette du condamné - A bicicleta do condenado (1958). O enredo, como tudo quanto escreve Arrabal, destrinça o absurdo, mostrando o conflito do caos e da liberdade. Para trazê-lo à consciência do público, expõe o drama de dois protagonistas (representados na peça por um ator): um homem condenado a andar de bicicleta e um pianista condenado a tocar piano. A bicicleta e o piano são a pedra de Sísifo de suas vidas. Chegados a esse ponto, em que tão inocente companheira de lazer se converte em instrumento de punição, será de bom aviso abreviar o nosso périplo.


QUEIROZ, Maria José de. Refrações no tempo: tempo histórico/tempo literário. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996. p. 103-104.