quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Tango: variedade na unidade

Também se chamam figuras os passos da dança portenha. Algumas, já conhecidas, como o molinete e o ocho, conservaram os antigos nomes. Constitui-se cada figura de uma combinação de passos que a mulher reelabora, ao revés, após o movimento do parceiro. Numa recriação inovadora, o par pode traçar dez, quarenta ou mais figuras. O homem as repete, em verdadeiras séries de variações, desdobrando-as, indefinidamente, ad libitum. Daí dizer-se que o tango, no momento da dança, se revela distinto de si mesmo, e "nunca chega a repetir-se com total exatidão". "Variedade na unidade",
eis a preceptiva clássica que Carlos Vega lhe atribui.


QUEIROZ, Maria José de. "Voulez-vous tanguer?" O tango argentino. In: _____. A América sem nome. Rio de Janeiro: Agir, 1997, p. 186.

O cemitério dos vivos, Lima Barreto

Impregnado da leitura dos escritores russos, especialmente de Dostoievski, O cemitério dos vivos sugere, no jogo de palavras - cemitério/casa, vivos/mortos, o parentesco entre a prisão e o asilo de alienados e uma resposta em contraponto às Recordações da casa dos mortos. Seu principal intuito parece ter sido o de evidenciar a exproriação da vida por parte da instituição cujo ofício é curar, e não segregar nem exterminar.
Excluído da sociedade, morto a seus olhos (como habitantes do cemitério dos vivos), vale-se Lima Barreto da momentânea experiência da loucura para observar os mecanismos de comportamento dos companheiros de infortúnio. Desempenha, para isso, de modo dramático, o papel de alienado.


QUEIROZ, Maria José de. A literatura alucinada: do êxtase das drogas à vertigem da loucura. Rio de Janeiro: Atheneu Cultura, 1990, p. 136.