domingo, 2 de agosto de 2009

César Vallejo, poeta maior das letras peruanas

Para situar-se como homem num mundo de homens, César Vallejo trata de definir-se como criatura em estreita relação de dependência com o Criador. Dessa definição resulta a lavratura do atestado de nascimento em amargos termos:

"Yo nací un día
que Dios estuvo enfermo.
Todos saben que vivo,
que soy malo; y no saben
del diciembre de ese enero.
Pues yo nací un día
Que Dios estuvo enfermo.
...

Todos saben que vivo,
que mastico... Y no saben
porque en mi verso chirrian
oscuro sinsabor de féretro,
luydos vientos
desenrroscados de la Esfinge
preguntona del Desierto.
...
Yo nací un día
que Dios estuvo enfermo,
grave."

QUEIROZ, Maria José de. César Vallejo: ser e existência. Coimbra: Atlântida, 1971. p. 25-26.

Indiferença e ignorância

Perdemos nós, os brasileiros, no repúdio ao antepassado, a noção do parentesco. Renunciamos à Hispânia, berço comum peninsular, e confundimos, na renúncia, toda a descendência continental que moureja e padece ao nosso lado. Citam-se com dificuldade um Oliveira Lima, um Manuel Bonfim ou um Sílvio Romero a interessar-se pelo mundo hispano-americano. Atualmente lembraríamos Manuel Bandeira, Sílvio Júlio, Ivan Lins, Eduardo Frieiro, Henriqueta Lisboa. Também ela, a América espanhola, nos retribui da mesma moeda. Não nos aventuramos além de Machado de Assis e Jorge Amado. Desdém? Por certo, não. Indiferença nascida da ignorância. Ignoram-se entre si os povos de fala castelhana. Argentinos e uruguaios leem com mais facilidade os bons autores franceses e ingleses do que os escritores peruanos, mexicanos, chilenos ou bolivianos, e reciprocamente.

QUEIROZ, Maria José de. Convite à literatura hispano-americana. In: ______. Presença da literatura hispano-americana. Belo Horizonte: Imprensa/Publicações, 1971. p. 11-12.